20 junho 2009

[Esclarecedor texto do Selvino Heck acerca das supostas fraudes nas eleições no Irã.Contém revelador relato de empresário brasleiro que esteve no Irã às vésperas das eleições. É interessante ver a mesma notícia de ângulos distintos.]

Como se fabricam notícias e opiniões
Selvino Heck *
do Blog adital

Aproveitei o semi-feriadão de Corpus Christi para ouvir os noticiários televisivos. Principal assunto: as eleições no Irã (antiga Pérsia), com vitória expressiva de Mohammad Ahmadinejad, as supostas fraudes ocorridas e as manifestações da oposição inconformada com os resultados.

Comento que é preciso ver com extremo cuidado as notícias e reportagens, todas iguais em todos os canais. Já me chamara a atenção o noticiário pré-eleitoral, quando o candidato da oposição, e sua mulher eram sempre exaltados e o atual presidente demonizado. Tudo tinha um cheiro de já visto ou semelhante a tantos outros acontecimentos internacionais, em que só uma voz era ouvida e uma versão difundida.

Volto a Brasília, acesso a Internet e leio no blog de Luis Nassif o relato de Marcus Netto: "Empresário, cheguei ontem do Irã. Dez dias em Teerã, Qom, Yazdi, Shiraz e Ishafan. Fui hóspede na casa de fornecedores da típica classe média e alta iraniana. Assisti aos debates de TV com eles. Em função da minha profissão, visitei indústrias onde perguntei livremente operários, taxistas, pequenos comerciantes e populares em cafés. Todos, quase sem exceção, declaram voto em Ahmadinejad. Os empresários é que financiaram a oposição. É preciso reconhecer os fatos sem paixões.

Presenciei pessoalmente a total liberdade da população em se manifestar. Diariamente, após as orações da noite, por volta das 22h, massas de jovens, estudantes faziam manifestações barulhentas nas cidades que visitei. Sem nenhuma repressão. Chamou-me a atenção a caríssima campanha do líder da oposição, M. Mousavi. Folhetos coloridos em tamanho A4 e A3 eram distribuídos aos motoristas aos milhares.

As eleições atuais se parecem muito com a disputa entre Lula e Alckmin. No caso iraniano, a oposição cometeu o erro de achar que a opinião pública é composta apenas pelos bem nascidos e a classe média. Pior que isso, eles insultaram o Islã utilizando cores e símbolos que são inapropriados dentro do Islã.
Gostando ou não da cultura islâmica, todos com que conversei no Irã, ricos e pobres, declaravam-se muito satisfeitos com a religião. O Irã é muito mais liberal quanto às mulheres do que a ditadura da Arábia Saudita e dos Emirados e muito menos corrupto que a ditadura Mubarak no Egito. Até mesmo os detratores de Ahmadinejad afirmaram que ele era um homem honesto.

Os Estados Unidos participaram ativamente no suporte à oposição, através de recursos financeiros e de sua comunidade exilada em Washington, provenientes da era do Xá Pahlevi. A CIA já fez isso no passado com Mossadegh e tentou novamente. Porém, no mundo atual, parece que os pobres através de seu silêncio, mas argúcia, estão sabendo dar as respostas necessárias às elites carcomidas do mundo velho."

Segundo o presidente Lula, "não é o primeiro país que tem uma eleição na qual alguém ganha e quem perde faz protesto. A impressão que eu tenho é a de que o protesto é de quem perdeu. No Brasil, nós já estamos assim de experiência."

Tem sido assim ao longo do tempo, desde o anti-comunismo feroz, passando por Cuba, Nicarágua, até hoje com Venezuela, Bolívia. Fabricam-se notícias e opiniões ao gosto do freguês ou da ideologia de quem as produz, edita e divulga.

Quando vejo os noticiários, ligo o desconfiômetro. Busco várias opiniões. Dá trabalho, mas é necessário. Felizmente, as inovações tecnológicas estão democratizando a comunicação e a informação. Cada um pode ter computador em casa, ter um endereço eletrônico, acessar sites e blogs, comunicar-se com o mundo. Assim, é possível fugir dos das manipulações, formar pensamento e opiniões próprias. Viva a democracia!

* Assessor Especial do Presidente do Brasil

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