20 junho 2009

A deformação da cobertura jornalística da crise no Irã

A verdade é que é muito difícil julgar o que ocorre no Irã. A violência policial é condenável, mas a polêmica em torno das eleições é duvidosa. Ambos os líderes das correntes políticas que se opõem, Ahmadinejad e Moussavi, são radicais com longo histórico de violência. Nenhum dos dois prega mudanças ou é moderado.

Impressionante como a imprensa cria estereótipos estapafúrdios e completamente descolados da realidade. Exemplo? Às vésperas das eleições no Irã, a mídia ocidental criou a fantasia de que Ahmadinejad poderia ser derrotado por um "moderado". Moderado? Mousavi? Para quem desconhece a história política do Irã, o candidato oficialmente derrotado Mir-Hossein Mousavi, é um antigo primeiro-ministro do aiatolá Kohmeini, responsável pela execução de milhares de opositores políticos na década de 80.

Com incrível cara de pau ou ignorância, muitos jornalistas chegaram a dizer que Mousavi iria inaugurar um novo período de relações amigáveis com o Ocidente e até com Israel. Para quem não lembra, em 2001, Mousavi esteve envolvido no atentado terrorista ao centro cultural judaico de Buenos Aires. Morreram 85 pessoas.

Enfim, denunciar a violência contra o povo do Irã é papel da imprensa ocidental, mas construir deliberamente uma falsa imagem de defensora das liberdades de uma das partes envolvidas no conflito é no mínimo rasgar os mais básicos princípios do jornalismo.

2 comentários:

Beatriz disse...

Colocou, muito bem, a meu ver, a questão. O fato é que os Estados Unidos desejam que Ahmadinejad caia e demonstram que não aprenderam muito com a História. Fariam um novo Sadan Hussein com o Mousavi, um novo Bin Laden? além dessas questões, ainda há o fato de os médio-orientais terem valores e costumes muito diferentes dos nossos judaico-cristãos-ocidentais, além de uma história belicosa de 7000 anos. Achar que os compreendemos é muita pretensão.

Marcos Pontes disse...

desculpe, Adroaldo, o comentário anterior foi meu, estava logado como minha mulher.